sábado, 12 de dezembro de 2009

Ética empresarial: esperança em meio à crise

Ética empresarial: esperança em meio à crise

Bruno Gomes

A atividade econômica é uma prática social e não uma ação realizada por indivíduos isolados. Por isso, a cultura empresarial deve ser social, reconhecendo o lugar das pessoas na empresa, aceitando a ideia de ética e tendo valores partilhados. As organizações não desempenham somente uma função comercial ou financeira, mas também uma função ética. Isso é admitido pelos empresários competitivos que têm bom senso e que buscam estratégias sustentáveis de desenvolvimento.

A palavra "ética" vem do grego ethos e significa costume, índole; sendo a parte da filosofia onde se reflete sobre os princípios que fundamentam a vida moral. Ou seja, ela analisa as escolhas feitas pelos agentes em situações reais, observando se as decisões estão de acordo com os padrões sociais. A ética, contudo, não busca meramente o conhecimento da verdade, mas também a sua aplicação.

A Administração assimilou os princípios éticos gradualmente. Ética empresarial é um conceito recente e significa o estudo da aplicação das normas morais pessoais aos objetivos e às atividades da empresa. Em síntese, é o estudo de como o contexto organizacional apresenta problemas morais à pessoa que atua como administrador.

No mercado atual os gestores percebem os elevados custos advindos de escândalos nas organizações e, por isso, compreendem que altos padrões de conduta configuram-se em um ativo tão importante quanto o ponto comercial ou a clientela, por exemplo. Surge uma nova definição de boa empresa: aquela que possui lucro e oferece um ambiente moralmente gratificante, onde as pessoas desenvolvem tanto seus conhecimentos especializados quanto suas virtudes.

Assim, a ética empresarial pode trazer muitos benefícios para a companhia, como a fidelidade de seus clientes, fornecedores e funcionários. Os ganhos no marketing também são significativos. Mas é um engano achar que a ética possa ser usada como mera vitrine, pois seus resultados não são de curtíssimo prazo. Os benefícios resultam apenas da verdadeira ética, ou seja, da escolha constante do bem.

Além disso, as empresas são redes de interação com diversos participantes, chamados de stakeholders, como as comunidades em que estão localizadas, meio ambiente, clientes, fornecedores, concorrentes e empregados. Tais contrapartes dispõem de poder para retaliar instituições que desrespeitem normas básicas de relacionamento com o público. Diante disso, as organizações assumem cada vez mais responsabilidade social.

A responsabilidade social de uma empresa se refere à cidadania e não é um problema adicional, mas parte das preocupações principais. Em relação ao ambiente externo fala-se em respeito ao meio ambiente, trabalho voluntário, enfim, tudo o que constitui uma empresa cidadã. Por outro lado, considerando-se o público mais próximo, como colaboradores e acionistas, busca-se criar um sistema que garanta o modo ético de operar, que siga a filosofia da organização e os princípios do Direito. Exemplo disso é o respeito aos portadores de necessidades especiais e às diferenças de etnias, gêneros, orientação sexual, religião etc.

É verdade que ainda existem pessoas para as quais o ambiente empresarial é um mundo selvagem onde não há espaço para a ética. Tal pensamento, porém, é limitado e não se sustenta no longo prazo. A crise econômica mundial surgida no final de 2008 coloca em evidência as consequências nefastas da falta da ética nos negócios. Essa turbulência financeira não foi provocada por guerras, nem por problemas nas safras agrícolas, mas sim por problemas no campo ético.

Verificaram-se flagrantes da falta de ética empresarial nesse episódio, como gestores de investimento agindo de modo temerário com o dinheiro dos investidores, aplicando-o em produtos financeiros inadequados, com a anuência das agências de rating, as quais eram pagas pelas empresas a serem avaliadas. A esperança neste início de ano é que tais fatos intensifiquem a demanda por uma liderança mais ética, com foco na sustentabilidade e na responsabilidade social.

Afinal, a reflexão ética permite a legitimação das decisões e a credibilidade de uma instituição reflete a prática de valores como honestidade, integridade, qualidade do produto, transparência, respeito ao consumidor, eficácia, entre outros. E o apoio dos administradores é fundamental para a formação da cultura organizacional que influencie o comportamento ético na empresa.

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